sábado, 1 de dezembro de 2012

Jogos e Brincadeiras Populares



Vocês lembram de como era a infância a 15 anos a trás? Poxa, era incrível... Correr, pular, se esconder... Bons tempos. 
Então, trago um trecho de um artigo que fiz a 2 anos atrás que retrata um pouco da relação dos jogos e brincadeiras populares com a Educação Física.

Boa leitura...

Falar de jogos e brincadeiras populares nos faz voltar no tempo, lembrar de como era bom sair de casa, muitas vezes escondidos e sem autorização dos nossos pais, e correr na rua, brincar de pular corda, amarelinha, jogar bolinha de gude, polícia ladrão, pega-pega, toca, queimada, andar de bicicleta, construindo casas com cobertores e cadeiras, escorregando de meia pela casa e outras tantas brincadeiras.
                                       
  Os jogos e as brincadeiras infantis e a Educação Física      

Antes de recorrermos aos benefícios do jogo e brincadeiras nas escolas, vamos fazer um questionamento. O que é o jogo? Como podemos definir esta palavra que traz um imenso repertório lúdico? Para Lorezoni (2002) há uma diferença entre jogo e brincadeira. Diz o autor que “o jogo é uma brincadeira com regras e a brincadeira, um jogo sem regras” e que “o jogo se origina do brincar ao mesmo tempo em que é o brincar” (LOREZONI, 2002, p.53).

Kishimoto (1999) afirma que tentar definir o termo jogo não é tarefa fácil, pois quando se pronuncia a palavra jogo cada um pode entendê-la de modo diferente, pois uma mesma conduta pode se tornar jogo ou não-jogo em diferentes culturas. Pode-se falar de jogo de adultos, de crianças, de amarelinha, xadrez, contar estórias, brincar de mamãe e filhinha, futebol, dominó, quebra-cabeça e uma infinidade de outros. No entanto, cada um destes apresenta suas próprias especificidades e vai depender do significado que cada cultura atribui ao mesmo.

Ela ainda diz que a concepção de jogo não pode ser vista de modo simplista, mas pelo significado da aplicação de uma experiência, instrumentalizada pela cultura da sociedade. Isso significa que quando alguém joga, está ao mesmo tempo desenvolvendo uma atividade lúdica. Neste contexto podemos observar uma relação íntima entre atividade física e prazer.

Ao mesmo tempo, Huizinga (2000, p.33) propõe a seguinte definição para o jogo:
“[...] uma atividade de ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, seguindo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias dotadas de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana.


Para Huizinga (2000) um dos elos linguísticos mais importantes é o jogo: “o jogo é o um fato mais antigo que a cultura, pois pressupõe sempre a sociedade humana, ultrapassa os limites da atividade puramente física ou biológica e confere um sentido a ação” (HUIZINGA, 2000, p.03-04). Isso nos indica que o jogo é um fator essencial para o desenvolvimento da criança, deixando um domínio lúdico. Nela, está sustentada a necessidade do jogo como fonte de prazer e criação.
           
Os jogos e as brincadeiras populares fazem parte da cultura infantil e podem ser praticados nas ruas, quintais, pátio das escolas, terrenos baldios, áreas de lazer, ou seja, onde quer que existam espaços disponíveis para sua prática.

No Brasil, os jogos de rua e de salão têm variações locais, dependendo das influências que cada área recebeu. No interior dos estados brasileiros, nas cidades ditas como pacatas, ainda podemos encontrar crianças nos seus quintais confeccionando seus próprios brinquedos, geralmente são as crianças cujos pais não têm um maior poder aquisitivo.

Vygotski (1988, p.51) indica que “a relevância de brinquedos e brincadeiras são como indispensáveis para a criação da situação imaginária”. Assim, revela que “o imaginário só se desenvolve quando se dispõe de experiências que se reorganizam”. Desta forma podemos dizer que a riqueza e o acervo de brincadeiras constituirão o banco de dados de imagens culturais utilizados nas situações interativas.

O Brasil tem uma enorme diversidade cultural e isso nos possibilita trabalhar com os jogos de diferentes formas nas escolas. Na obra do Coletivo de Autores (1992) existe uma preocupação com a localização e a identidade da comunidade escolar, destacando que um resgate dos jogos infantis na escola suscitaria esse compromisso:

Num programa de jogos para as diversas séries, é importante que os conteúdos dos mesmos sejam selecionados, considerando a memória lúdica da comunidade em que o aluno vive e oferecendo-lhe ainda o conhecimento dos jogos das diversas regiões brasileiras e de outros países (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.67).

Quando a criança joga, ela sai de um mundo concreto e vai para um mundo imaginário, onde lá ela pode criar suas próprias regras, resultando num processo criativo para modificar a realidade e o presente. O jogo satisfaz necessidades das crianças, especialmente a necessidade de ação. Para “entender o avanço da criança no seu desenvolvimento, o professor deve conhecer quais as motivações, tendências e incentivos que a colocam em ação (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.66).

Não sendo o jogo aspecto dominante da infância, ele deve ser entendido como “fator de desenvolvimento” por estimular a criança no exercício do pensamento, que pode desvincular-se das situações reais e levá-la a agir independentemente do que ela vê.

Marcellino (2002) pressupõe que com o aumento da população urbana deixou-se de desenvolver uma adequada infra - estrutura que zelasse pelo lazer das pessoas. Em consequência, uma preocupação marcante, é o fato de haver cada vez menos locais onde as crianças possam expressar suas ações de brincar. Por outro lado Melo (1989) afirma que o avanço tecnológico dos meios de comunicação de massa, especialmente a televisão, levou a população infantil a modificar suas formas lúdicas. Como se pode constatar na seguinte afirmação de Melo (1989):

O repertório de movimentos foi amplamente reduzido, com a criança passando a desempenhar papel passivo diante de um receptor de televisão. O problema é ainda agravado pela transmissão de programas de questionável valor educativo (MELO, 1989, p.74).

Segundo Mello (1999), enquanto na sociedade industrial tivemos a substituição da atividade humana pela máquina, agora, verificamos a substituição do raciocínio humano pelos poderes eletrônicos da computação. As crianças, assim, perderam todo seu poder criativo de se emanciparem enquanto sujeitos para serem absorvidas pelo computador. Outra dificuldade que se observa para a preservação de jogos e brincadeiras infantis, de acordo com Melo (1989), diz respeito ao crescente número de brinquedos industrializados.

Há algum tempo as pipas e os carrinhos estão sendo substituídos por aviões e carros com controles remotos, as indústrias a cada dia que passa lançam brinquedos cada vez mais sofisticados, limitando assim a reflexão da criança. Neste sentido, Oliveira (1987) salienta que a sociedade capitalista, cuja organização está baseada na produção e no consumo de mercadorias, discrimina os brinquedos artesanais, confeccionados geralmente por quem brinca, adestrando as crianças a consumir produtos industrializados.
           
Vivemos em um país que apresenta uma grande diversidade cultural, sendo assim, é questionável o que leva a criança a não usufruir das diversas formas de manifestações que o Brasil oferece. Por exemplo, temos infinitas formas de expressão corporal, cantigas de roda, jogos e brincadeiras populares, capoeira, que cada vez mais, estão saindo do cotidiano devido à tecnologia estar presente em nosso meio, limitando as crianças a seus quartos que lá poderão apenas usufruir de jogos de computadores, vídeo games e programas de Tv.

Podemos, também, dar relevância a violência que cresce em nossas cidades e o crescimento destas que tomam os espaços de lazer e o crescimento da poluição, isso leva os pais a acharem que as crianças dentro de suas casas estão mais seguras esquecendo o universo lúdico que está ao seu alcance.

Faria Júnior (1996, p.59) afirma que os “jogos populares infantis, brinquedos cantados foram sendo perdidos (ou transformados) nos últimos cinquenta anos possivelmente como consequência dos processos de urbanização e de industrialização”.

Através da Educação Física que trabalha com a ludicidade de diferentes formas de manifestações, pode-se levar as brincadeiras antigas que fazem parte do universo infantil ao cotidiano das aulas. Através das brincadeiras a criança movimenta-se em busca de parceria e de exploração de objetos; comunica-se com seus pares; se expressa através de múltiplas linguagens; descobre regras e toma decisões.

Trabalhando com estes conteúdos podemos formar seres críticos, criativos e aptos a tomar decisões. Para isso podemos usar os jogos e brincadeiras populares no cotidiano das aulas de Educação Física, algo que será possível em nossas aulas para resgatar a cultura popular brasileira.




Nenhum comentário:

Postar um comentário